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No Dia dos Namorados, conheça casais que tiveram suas histórias fortalecidas pelo artesanato

Antes e depois do casamento, artesãos reforçam relacionamento  partir da criação em conjunto

Comemorado em 12 de junho no Brasil, o Dia dos Namorados é nesta segunda-feira. E embora a data seja voltada para os namorados, muitos casados também costumam comemorá-la. No Artesanato e na Arte Popular, a atividade profissional acaba aproximando e fortalecendo casais que, em determinado momento, percebem a possibilidade de trabalharem juntos. De acordo com Lucas Lassen, curador e diretor criativo da Paiol, uma das principais lojas de artesanato de tradição e arte popular do Brasil, é muito comum que um cônjuge acabe influenciando o outro.

“Em contato quase diário com artesãos do Brasil inteiro, eu percebo que geralmente um dos dois começa a produção, até que em dado momento, o número de pedidos começa a aumentar e o outro se sente incentivado a auxiliar. A partir daí, neste processo de trabalhar juntos, a relação de muitos casais acaba fortalecida pela criação artística e até mesmo influenciam outros membros do núcleo familiar, como os filhos e netos, por exemplo”, afirma Lassen.

Abaixo, conheça alguns casais que passaram a trabalhar juntos e tiveram suas histórias atravessadas positivamente pelo Artesanato e pela Arte Popular.

Mestre Neguinha e Nanai

Mestre Neguinha e Nanai com as cabeças de cerâmica – Fotos Arquivo pessoal e Theo Grahl

Seguindo a tradição de sua mãe e avó, Maria do Carmo, mais conhecida como a renomada Mestre Artesã Neguinha começou a mexer com o barro por volta dos 7 anos, fazendo pequenas peças que serviam para suas brincadeiras. Nascida em Belo Jardim, no agreste pernambucano, aos 10, já fazia panelas de barro que, segundo ela, não lhe traziam praticamente nenhum retorno. “Eu vendia cem panelas por cerca de R$ 40,00 e foi assim durante muitos anos, mesmo depois de casada, o que fazia o meu marido ter até raiva do meu trabalho”, revela. O marido, Arnaldo Guimarães, conhecido pelo apelido de Nanai, ela conheceu em 1994, em um barzinho que funcionava na casa de uma amiga em comum. “A gente passou alguns meses se olhando, mas ele não falava comigo e eu não falava com ele. Até que o irmão dele me chamou para dançar e avisou que o Nanai estava interessado em mim”, completa. O primeiro encontro foi em 17 de dezembro daquele ano e em cerca de 15 dias, já tinham juntado os trapos, como ele mesmo diz.

As mudanças começaram a ocorrer, depois de conhecerem a artista plástica Ana Veloso, que na época coordenava o projeto Estado de Arte, da Secretaria de Cultura de Belo Jardim, que tinha como foco revitalizar a produção artesanal do município e estimular a potencialidade dos artesãos do local. As novas criações com tamanduás, sereias e santos começaram a fazer sucesso, até que as famosas cabeças – hoje reconhecidas no mundo todo – se transformaram numa marca registrada, trazendo à ela em 2011 o título de Mestre Artesão pelo Estado de Pernambuco. Há cerca de quatro anos, Nanai precisou pedir demissão para auxiliar a esposa na produção que, segundo ele, não para de crescer. “Graças a Deus, tudo o que a gente tem hoje é fruto do artesanato e, desde então, não tivemos sequer um dia ruim. Pelo contrário, a gente sempre se deu muito bem, mas com o artesanato estamos cada mais próximos”, completa ele. Neguinha e Nanai estarão na ala dos Mestres da FENEARTE, feira que acontece em Recife em julho.

Marcos e Jaqueline

Leque Vietnamita

Marcos aprendeu o ofício com sua esposa Jaqueline (à direita) e também com Anísia e Cibele, sua sogra e cunhada. Agora, a filhinha do casal, de 6 anos, também já começa a brincar com o barro – Foto Alexandre Disaro

Filha, neta e bisneta de artesãs, Jaqueline Dias de Souza, 26 anos, até chegou a cogitar seguir outra profissão, mas não fugiu à tradição de sua família. Com suas vidas moldadas pelo barro, esta é uma atividade que as mantém há pelo menos cinco gerações e que vai passando de mãe para filha. “Aqui no Vale do Jequitinhonha, a gente começa a brincar com o barro ainda na primeira infância e isso acaba nos influenciando muito”, revela. Marcos Lopes Cruz, 34 anos, seu marido, também tem familiares no artesanato, mas só começou a se interessar pela técnica depois de conhecer Jaqueline numa festa na comunidade de Vendinhas, no município de Capelinha, no interior de Minas Gerais, em 2011.

As visitas constantes à casa da sogra, durante o namoro de quatro anos, o fizeram se encantar por todo o processo de produção das peças. “Eu comecei aos pouquinhos por incentivo da Jaqueline e da minha sogra e logo já estava conciliando a produção com a função de operador de máquinas em construções”, afirma. Com o casamento em 2015 e, mais tarde, o nascimento da filha do casal, ele sentiu a necessidade de estar mais perto de casa, visto que precisava passar muitos dias fora por conta da profissão. Pouco tempo depois, o artesanato passou a igualar e, às vezes, ultrapassar a renda que ele tinha como operador, mas com a vantagem de trabalhar dentro de casa. “O artesanato hoje para nós, além de representar qualidade de vida, ele acaba fortalecendo o nosso laço familiar”, completam eles que, por meio das brincadeiras, já incentivam a filha de 6 anos.

Yran e Emeton

Os Pedidores de Abraços, da Armoriarte, se tornaram um fenômeno – Fotos Arquivo Pessoal e Theo Grahl

Juntos há quase 20 anos, a história de Yran Palmeira e Emeton Kroll começou no trabalho. Yran é compositor, locutor e produtor de jingles e Emeton sempre trabalhou na edição e gravação em estúdios de áudio. Com isso, em 2004 acabaram se encontrando pela primeira vez numa produtora em Recife e, segundo Yran, se apaixonaram em poucos dias. Em 2005, depois da demissão de Emeton, para não ficar longe do companheiro, Yran acabou pedindo demissão também. “Eu saí, porque a nossa ligação era tão forte que eu não queria ficar longe dele”, afirma. Eles se mudaram para Alagoas, onde continuaram trabalhando e, em 2008, voltaram para Caruaru, cidade natal de Emeton. Com isso, decidiram empreender e abrir o Studio Klave, produtora de áudio que se mantém até hoje como um negócio de sucesso.

A arte e o artesanato chegaram mais tarde, por volta de 2015, por influência de um grande amigo do casal que os incentivou a pintar. Porém, a morte precoce do amigo os fez desistir desse caminho por alguns anos. Com o tempo, ambos entenderam o quanto a arte poderia ser terapêutica dentro dos processos de luto e voltaram às artes, primeiramente para a pintura e depois para a cerâmica. Em um de seus testes, Emeton fez um primeiro boneco de braços abertos, que Yran acabou batizando de Pedidores de Abraços e que se tornaram um verdadeiro fenômeno. A Armoriarte, marca artística dos dois, tem inspiração no movimento armorial, encabeçado por Ariano Suassuna e em referências do ícone da arte pernambucana Francisco Brennand. Hoje, para conseguir ter uma peça moldada e pintada à mão pelos dois é preciso esperar até 90 dias em uma fila de espera, dado o sucesso alcançado. “Eu acho que não conseguiria trabalhar por tanto tempo e com tanto prazer se não fosse ao lado de quem eu amo e de quem me ama também”, completa Yran. Em 2023, pela primeira vez, ambos também participam da FENEARTE, principal feira de arte popular e artesanato de tradição do país.

Adriana e Juliano

Adriana, que trabalha há 33 anos com artesanato, conheceu Juliano na escola e passaram a trabalhar junto depois que ele foi demitido de uma empresa – Fotos Arquivo Pessoal e Theo Grahl

A história de Adriana Souza, 52 anos, e Juliano Martins, 49 anos, começa na escola, quando decidiram retomar os estudos já adultos em Jacareí, no interior paulista, onde nasceram e moraram por vários anos. Ela começou a atuar com o artesanato por volta dos 19 anos, quando assumiu o ofício como uma profissão. Ele, que até 2005 atuava na indústria, viu sua vida mudar quando foi demitido de um emprego que ele considerava estável. Foi neste período que ele decidiu voltar para a escola a fim de terminar sua formação no ensino médio. Por lá, encontrou Adriana, que também tinha voltado a estudar após longos anos. O relacionamento dos dois começou ali e, depois de um mês desempregado, Juliano recebeu um convite. “A Adriana me perguntou se eu não queria trabalhar com ela, mas eu não tinha muita noção do que ela fazia, só sabia que ela conseguia viver do artesanato. Por isso, eu acabei indo conhecer e aprendi todo o processo de trabalho com a madeira, material que demanda um certo domínio para saber como cortar e entalhar”, diz Juliano.

Depois de fazer as primeiras peças, segundo ele ainda bem amadoras, ele acabou se animando com a criação artística e foi se aperfeiçoando ao longo do tempo. Dezoito anos depois e com três filhos, agora morando em Caraguatatuba, no litoral paulista, o casal permanece usando a madeira e a pintura para produzir esculturas de Arte Naif, ele no entalhe e ela na pintura. Juntos, eles construíram a marca Casa das Casinhas. “A gente gosta de representar o cotidiano, o recorrente, mas sempre de uma forma mais leve, colorida e animada”, revela Adriana, que considera que o artesanato vai muito além de uma fonte de renda. “É um estilo de vida, é um trabalho árduo, mas também é diversão e graças a Deus tem nos dado muita qualidade de vida”, finaliza.

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