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Pesquisadores combatem, no YouTube, armadilhas da rede por meio de investigações

Guerra na Ucrânia, inflação alta, pandemia de COVID-19, possível surto de varíola dos macacos, crise climática etc. Nos últimos anos, o mundo vem enfrentando uma série de avalanche que acontece simultaneamente. Todavia, desde o seu início, a humanidade sempre foi assolada por diversas catástrofes. A questão é que agora, mais do que nunca, os meios pelos quais a sociedade acessa tais notícias são bombardeados de tal maneira, principalmente com imagens, que se torna difícil filtrar o que é real ou não. Assim, além de todas essas questões, é preciso lidar com algo que pode ser ainda mais agravante: as fake news.

Em 2020, o estudo Iceberg Digital, desenvolvido pela empresa de segurança digital Kaspersky, apontou que 62% dos brasileiros não sabem reconhecer uma notícia falsa. Já em 2021, uma outra pesquisa do Instituto IDEIA e Vero demonstrou que 79% dos brasileiros consideram as fake news um problema grave. O estudo também mostrou que o grau de confiança na disseminação de informações a partir de fontes como imprensa, governo, judiciário, polícia ou universidades não passa de um terço dos entrevistados. Tal panorama pode ser atribuído, principalmente, à desinformação propagada durante a pandemia a respeito do novo coronavírus que chegou ao Brasil em 2020. Assim, ficou ainda mais difícil filtrar o que é ou não real.

Diante desse cenário caótico instaurado pela pandemia e pelas inverdades midiáticas, os pesquisadores acadêmicos Jack Brandão, professor doutor em literatura pela USP e diretor do Centro de Estudos Logo-imagéticos CONDES-FOTÓS, e Mariana Mascarenhas, jornalista e integrante do Centro, criaram um canal no YouTube com o intuito de auxiliar o público na forma como leem as imagens que lhe são apresentadas diariamente: o Imagens em Foco. O canal surgiu em 2020 e conta com centenas de vídeos voltados para as mais diversas áreas (literatura, comunicação, arquitetura, história, entretenimento e atualidades), mas com um propósito comum: desconstruir inverdades a partir de um convite ao público para que analise a totalidade dos fatos.

A ideia do Imagens em Foco foi uma forma encontrada por seus criadores para expandir os trabalhos de pesquisa do CONDES-FOTÓS, Centro de Estudos que consiste, basicamente, num laboratório de imagens. Seus membros são constituídos por pesquisadores acadêmicos de diferentes áreas focados em tecer reflexões teóricas e práticas em torno da construção, da recepção e da refração imagética na sociedade, produzindo artigos, livros, ensaios, exposição, entre outras produções.

Assim como no grupo de pesquisa, por meio do canal, Jack e Mariana visam a alertar seus espectadores sobre como a realidade dos fatos vai muito além do que a mídia ou os livros de história mostram. “É óbvio que não somos detentores da realidade. Apenas buscamos meios de instigar, em nosso público, mais dúvidas do que certezas, desconstruindo inverdades. Para isso, é preciso ir além do que a sociedade mostra, ou seja, empregar análises e confronto de informações, a fim de desenvolver o olhar do pesquisador. Afinal, somos seres iconotrópicos, ou seja, necessitamos consumir imagens o tempo todo. Eis a urgência em saber interpretá-las adequadamente”, afirma Brandão que possui dezenas de livros e artigos publicados a respeito do poder imagético sobre a sociedade.

Para a jornalista Mariana, a proposta do canal é cada vez mais desafiadora, considerando a forma como algumas mídias digitais enviam informação a partir da escolha de cada um. “Nós tendemos a enxergar o mundo com base em nossa própria formação e crenças. Redes sociais como Facebook e Instagram, por exemplo, potencializam essa questão, ao sempre nos mostrar postagens condizentes com o que pensamos ou acreditamos, favorecendo a formação das chamadas bolhas digitais, que nos impedem de acessar a totalidade dos fatos. Isso nos dá a falsa sensação de sermos detentores da verdade. Mas o que é a verdade afinal? Existe uma verdade, se cada um possui a sua?”, questiona a jornalista.

Enfim, o canal convida os espectadores a romper bolhas e ver o que está muito além da visão deles.